Profundo silêncio, para anunciar, invocar, adorar e comungar a Paixão e morte do Senhor. A celebração da Paixão tem hoje um expressivo início, com uma procissão em silêncio e um gesto de prostração. Queridos irmãos e irmãs: Jesus rompe a espiral da violência, mostrando que a Cruz é para levar às costas e não para brandir como uma espada: “Mete a tua espada na bainha» (Jo 18,11), como quem nos exorta: “Converte-te do teu mau caminho e da violência que há ainda nas tuas mãos (cf. Jn 3,9). Aprende de Mim, que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29).Olha que “mais vale padecer por fazer o bem do que por fazer o mal” (1 Pe 3,17).
Neste início do Tríduo Pascal, desejamos ardentemente, mais do que nunca, celebrar a Páscoa da Paz. Desejamo-la para nós e para o nosso mundo, sobretudo para o atormentado povo da Ucrânia. E esta é a noite em que o Senhor, no Seu Discurso de Despedida, nos deixa a promessa e o dom da Paz. Esta é a noite em que Jesus realiza gestos de Paz. Ele inclina-se sobre nós e lava-nos os pés. Ele chama-nos amigos. Ele põe-nos à Sua mesa. Ele confia-nos a memória viva de todos os Seus gestos de amor.
Irmãos caríssimos: desde o início da Quaresma que nos propusemos viver estes 40 dias como um tempo favorável para a escuta, para tomar a palavra, para caminhar juntos e por um caminho novo. Logo no início do caminho, quando se esperava uma primavera de libertação da pandemia, fomos surpreendidos pela guerra na Ucrânia e as nossas orações e gestos da Quaresma intensificaram a nossa comunhão com os irmãos ucranianos e russos. Ao longo deste caminho, mas sobretudo nesta Semana Santa, fixaremos o nosso olhar na Paz de Cristo, que na Cruz, responde à violência brutal dos homens, com a mansidão do coração Hoje estamos aqui reunidos, para darmos início, em união com toda a Igreja, à celebração do mistério pascal da Paixão, morte e ressurreição do Senhor. Foi para realizar este mistério que Jesus Cristo entrou na Sua cidade de Jerusalém, cidade da paz. Por isso, recordando com fé e devoção esta entrada triunfal na cidade santa, acompanharemos o Senhor de modo que, participando agora da Sua Cruz, mereçamos um dia ter parte na Sua ressurreição. Voltemos agora o olhar para a Cruz, que abre a procissão de entrada. Agitemos os nossos ramos e acolhamos os ministros da celebração, para que, com eles, caminhemos em paz, entoando a Cristo, nosso Rei e nosso Mestre, hinos e cânticos de louvor.
Este é o tempo favorável da conversão, da misericórdia e do perdão. Com o perdão, Deus faz-nos novas criaturas. Com o perdão, o Senhor liberta-nos do peso do pecado e do passado, dá-nos nova oportunidade e abre-nos um caminho novo, um caminho de saída e com saída para a Vida verdadeira. O perdão de Jesus à mulher adúltera, condenada e vítima de discriminação, também nos dá a esperança de um futuro gerado pelo génio feminino. Este é, por isso e também, o tempo favorável para pedir perdão pela intolerância e pela rigidez do coração, por todas as formas de inferiorização e discriminação, de uso e abuso das mulheres, na família, no trabalho, na sociedade e na Igreja.
Alegra-te, ó Jerusalém. Alegrai-vos, irmãos. Alegrai-vos cristãos. Rejubilai todos. Este é o Domingo “laetare”, este é o domingo da alegria. A cor roxa do tempo da Quaresma dá lugar aos mais festivos tons cor-de-rosa, para sinalizar a alegria da Páscoa que se aproxima. É a alegria da conversão, do perdão, da reconciliação, da vida nova, cada vez que celebramos o Sacramento da Reconciliação. É a alegria pascal do Domingo, dia do Senhor. Em cada domingo, mesmo na Quaresma, celebramos a Páscoa semanal de Jesus, o Filho do Eterno Pai, Aquele que estava morto e voltou à vida. E fazemo-lo, participando com alegria nesta mesa familiar, nesta mesa da Eucaristia.
Com meia Quaresma andada, soam os alarmes e um sério aviso a toda a população: se não vos converterdes, morrereis todos do mesmo modo (Lc 13,5). A paciência de Deus não tem limites! É verdade. Mas têm limites os tempos e as oportunidades da minha e da nossa conversão! Por isso, aproveitemos o tempo duplamente favorável, da Quaresma e do processo sinodal, para uma conversão pessoal e para uma renovação pastoral inadiável já, a partir de hoje e a partir daqui, para que nos tornemos a boa árvore que dá bons frutos de vida nova. Nesta Eucaristia, deixemo-nos mimar, cavar e adubar, pela Palavra de Deus, aproveitando este tempo rico de salvação.
No caminho para a Cruz, no meio da escuridão do medo que assaltava o coração dos discípulos, Jesus acende-lhes uma luz de esperança e de confiança no futuro. No alto de um monte, enquanto rezava, alterou-Se o aspeto do seu rosto. Na oração, o Senhor transforma sempre a nossa vida, transforma o nosso rosto desfigurado pelo medo e faz-nos ver a realidade com olhos de esperança. Na Transfiguração de Jesus, antecipa-se, por momentos, a vitória da Páscoa. E ficamos todos a saber: a última palavra não é o mal, não é o sofrimento, não é a morte. A última palavra é a do amor. A última palavra é a da Ressurreição. É este o anúncio que ressoa em cada domingo. Hoje também.
Este é o tempo favorável. Desde a passada Quarta-feira de Cinzas, ressoa nos nossos corações este fortíssimo apelo: aproveitemos o tempo favorável: o tempo favorável do nosso caminho quaresmal e o tempo favorável do percurso sinodal, para ampliarmos a escuta: a escuta silenciosa de Deus na sua Palavra, a escuta recíproca entre nós, a escuta humilde da realidade, que nos desafia a discernir os atalhos a evitar e o Caminho a seguir. Para isso, somos impelidos, tal como Jesus, pelo Espírito Santo, a entrar no deserto da solidão, do silêncio, da oração, da escuta e da purificação, para prosseguirmos juntos por um Caminho novo.